27 de junho de 2007

George V

Minha realidade , este inverno, é feita de muitas coisas.
O avião que se aproxima da cidade.
O sol que se põe atrás dos alpes, ao longe. Cordilheiras nevadas.
Bem lá embaixo, as luzes se acendem em milhares de janelas.
Por um momento nem consigo mais lembrar para onde estou indo.
Foi um vôo longo. Houve um filme, jantar e café da manhã.
Carrinhos passaram mil vezes, de um lado para o outro.
Comida, bebidas e cobertores de lã macia.
Aeromoças ansiosas, apressadas e solícitas.
Maquiagens impecáveis e sorrisos quadrados.
O lugar para onde vou não tem mais nenhuma importância, agora.

Uma suíte de hotel.
Sofás estofados de seda verde e montanhas de almofadas.
Uma cama imensa. Janelões que dão para a rua excessivamente iluminada.
Flores, bombons e uma cesta imensa de frutas.
Champagne e gelo, com os cumprimentos da gerência.
Minha bagagem entrando, enquanto eu sorrio e agradeço.
Merci, messieur. Merci, mademoiselle. Je vous en prie.
Luz amarela que atravessa as vidraças. Luz excessiva. Cidade luz.
Luz. Então é isso. Estou em Paris.
Novamente sozinha, os olho bem abertos, em um quarto estrangeiro.
Acordada, enquanto todos em minha terra ainda dormem.

1 de junho de 2007

Eu traio, tu trais, ele trai...

O homem diz que trai porque é da sua natureza. Ou porque “rolou uma oportunidade”.
Acho que é verdade. E não existe homem fiel.
A mulher trai porque fica carente. Eu pelo menos sou assim.
Nunca pensei e nem disse “morri de tesão, por isso traí”.
Só traio por carência. E como sou muito carente, traio bastante.
É proporcional.

Homens preferem não ficar sabendo que foram traídos. Têm pavor de ser cornos.
Já as mulheres quase sempre são obssessivas, fuxicam a carteira deles, abrem os bolsos dos paletós, as agendas, olham os e-mails.
Procuram tanto, que acabam encontrando.
Bem feito.

A mulher se coloca na posição de vítima, não assume a culpa da traição. Finge que a culpa é “sempre do homem”.
Não sou assim.
Traio quando quero. E sem culpas.

"Perdoa-me por te traíres."