Estou teclando do meu note-book em um hotel no alto das colinas geladas do distante Leste Europeu.
O inverno é muito rigoroso e tudo o que vejo daqui da janela de minha suite é uma paisagem branca, silenciosa, gelada, quase tão fria quantos os meus olhos azuis.
Vim para cá, como faço todos os anos, organizar o famoso concurso de beleza local.
Tento me abastrair, imaginar que é isso apenas um trabalho como outro qualquer.
Mas, por mais que tenha auto-controle (e eu tenho), não posso deixar de ficar envolvida sentimentalmente.
Passei uma grande parte da minha vida participando desse tipo de concursos, como candidata.
Conheço perfeitamente bem os dois lados dessa moeda - ou dessa passarela.
Porém o que mais me preocupa agora, é que depois de uma breve e ardente aventura em Brasília, as minhas regras estão muito atrasadas - sim, e todos nós sabemos o que isso pode significar.
Não sei como vai ser, isso não estava - e nem nunca esteve - nos meus planos.
Prever o futuro é fácil.
Difícil é dizer o que está me acontecendo agora.
Agora tenho que descer para o saguão do hotel, respirar fundo, tentar me concentrar.
Ser profissional e enfrentar muitas horas de trabalho difícil, meticuloso e estressante.
Estou sendo esperada por dezenas de garotas nervosas e lindíssimas, com seus vestidos coloridos e luxuosos. Todas elas estão decididas a ser a rainha da beleza.
Não posso decepcioná-las.
Devo estar bonita, impecávelmente vestida e maquiada, para dar o exemplo.
Sapatos de verniz preto com saltos altíssimos.
E discretamente perfumada.
Uma mulher sem perfume não tem futuro.